Atividade:
Escolha uma imagem sobre infância (obra de arte/ anúncio de revista ou TV/
letra de música/ literatura/ internet, etc.). Faça um comentário sobre a imagem fazendo relação com o tema Educação Infantil.
Poema: O menino que carregava água na peneira
Tenho um livro sobre águas e meninos.
Gostei mais de um menino
que carregava água na peneira.
A mãe disse que carregar água na peneira
era o mesmo que roubar um vento e
sair correndo com ele para mostrar aos irmãos.
A mãe disse que era o mesmo
que catar espinhos na água.
O mesmo que criar peixes no bolso.
O menino era ligado em despropósitos.
Quis montar os alicerces
de uma casa sobre orvalhos.
A mãe reparou que o menino
gostava mais do vazio, do que do cheio.
Falava que vazios são maiores e até infinitos.
Com o tempo aquele menino
que era cismado e esquisito,
porque gostava de carregar água na peneira.
Com o tempo descobriu que
escrever seria o mesmo
que carregar água na peneira.
No escrever o menino viu
que era capaz de ser noviça,
monge ou mendigo ao mesmo tempo.
O menino aprendeu a usar as palavras.
Viu que podia fazer peraltagens com as palavras.
E começou a fazer peraltagens.
Foi capaz de modificar a tarde botando uma chuva nela.
O menino fazia prodígios.
Até fez uma pedra dar flor.
A mãe reparava o menino com ternura.
A mãe falou: Meu filho você vai ser poeta!
Você vai carregar água na peneira a vida toda.
Você vai encher os vazios
com as suas peraltagens,
e algumas pessoas vão te amar por seus despropósitos!
Manoel de Barros, Exercícios de ser Criança (Nova Edição).
Companhia das Letras, 2021.
Sobre Ludicidade e infâncias.
O poema e imagem escolhidos são do escritor Manoel de Barros, presentes na obra Exercícios de ser criança. Nele reconhecemos, principalmente, a abordagem do ‘‘cuidar e o educar: na perspectiva da ludicidade. ’’
Sabemos que a criança tem as características de ingenuidade, criatividade e imaginação. A prática lúdica nas aulas traz melhores resultados no processo de ensino da criança, visto que suas experiências são adquiridas por meio de representações, ações e emoções.
Propõe-se que o professor olhe para a criança com olhar de criança, no sentido de reduzir a visão do 'adultocêntrico', buscando igualar os mundos e se conectar verdadeiramente aos alunos.
Na narrativa O menino que carregava água na peneira, percebemos algo que é constante nos textos do autor Manoel de Barros e que também retrata o sentido de ludicidade, de dizer o indizível, de usar a constante imaginação como visão do mundo faz de contas.
Tendo a infância como um ‘‘entre - lugar’’, ou seja, um ponto de inserção de culturas, ressaltar o lúdico, bem como a arte, é importante para situar a criança no mundo em que vive, isto contribui significativamente para a apropriação, reprodução e reinvenção da sociedade que fazem parte.
Além disso, é possível fazer abordagem a ‘‘Relação do adulto e criança’’, pois a mãe é um personagem importante no poema.
Estudamos que existem pelo menos três estilos de relação entre pais e filhos: o autoritário, quando os pais controlam demais a criança; o permissivo, quando exercem um apoio forte e fraco controle sobre os filhos e, por fim, o “authoritative”, na qual os pais apoiam e disciplinam seus filhos de maneira igualitária. A mãe presente no poema pode-se interpretar que estaria entre o segundo e terceiro estilo. Nota-se seu apoio e o respeito sobre as atitudes do filho, em suas peraltagens e despropósitos, no seu ‘‘ser criança’’ e ao mundo imaginário no qual está inserido. Percebemos também o encorajamento e até certo ensinamento,
quando ela diz ‘‘Meu filho você vai ser Poeta. Você vai carregar água na peneira à vida toda...’’
Por fim, a imagem demonstrada, além do poema, podem ser relacionada ainda com a ‘‘cultura lúdica na formação de professores.’’
Presenciamos hoje o novo formato de educar que advém dos tempos de pandemia. Com isso surge o isolamento lúdico e a demonstração de que é na ludicidade que a
criança busca uma vida paralela do mundo real, sem se desconectar completamente dele.
Na imagem vemos um menino com uma peneira e tentando carregar a água nela, tendo o sentido de algo que seria impossível de fazer, mas se relacionado com o imaginário infantil, torna-se um aprendizado que pode ser abordado em sala.
É através de uma linguagem acessível e dos temas ludicidades, jogos, brincadeiras, ilustrações e claro, as tecnologias cada vez mais presentes no cotidiano, que apresentamos a criança um mundo de diversas formas e contextos, podendo ser abordado além do ambiente escolar.
Dito isto, entendemos que as peraltagens e os despropósitos fazem parte de ser criança, aguçando a capacidade de imaginar e tecer idéias, possibilitando nela a liberdade de se
descobrir e evoluir enquanto ser humano.
Referências:
E-book: Exercícios de ser criança (Nova Edição) Companhia das Letras.
Atividade Baseada em aulas na matéria Educação Infantil 1.
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