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Uma aprendizagem ou O livro dos prazeres

Livro: Uma aprendizagem ou O livro dos prazeres
Escritora: Clarice Lispector
Editora: Rocco


"E eu te amo era uma farpa que não se podia tirar com uma pinça."


A busca por si mesma, pelo amor e pelo prazer sem pudor ou culpa.
A aprendizagem do amor, um processo que todos nós - ou quase todos - experimentamos. O prazer de amar, o despir-se de toda culpa, medo ou máscara.
Lóri, personagem principal do livro vive uma busca por autoconhecimento e esse caminho é trilhado junto a Ulisses, um professor de filosofia que lhe serve como guia. Tudo está por acontecer, o livro é feito em transição, uma lenta mudança em construção na personagem e até no próprio leitor.
Não é uma história de amor comum, mas não deixa de ser uma mensagem muito atual.
Lóri é a insegurança da mulher, a baixa estima, o medo da entrega. A personagem passa por um processo de preparação, tendo que lidar com inseguranças, medos, hesitações, encontros e questionamentos.
Por que ela exagera na maquiagem? Por que ela tem medo de ir a uma reunião de trabalho sozinha? Por que ela nunca se permitiu comprar um maiô novo?
Ela não se sente pronta para o amor, para o prazer e também para o mundo. Ela se fecha a tanto tempo que sente medo até do que o sentimento por Ulisses pode se transformar, pois seus relacionamentos anteriores sempre foram superficiais, inconsistentes e rasos.
Lóri pretende dar um passo à frente na sua vida. O relacionamento com Ulisses, cujo ápice se dará quando enfim estiver pronta tem um significado especial, uma plenitude.
Por um momento comecei a me questionar até onde Clarice queria nos levar com esse romance, Lóri é dependente de Ulisses parar aprender a amar?
Mas em certo momento da trama vimos que não, sua aprendizagem se completa sozinha. Lóri se compreende mulher, ela sente a liberdade e só depois se sente pronta para Ulisses.
Amar é dar de presente ao outro a própria solidão?

Esse contato com a aprendizagem você pode ter somente ao ler a obra.
Li esse livro a muito tempo, por volta dos meus 15 anos de idade e foi o que me abriu os olhos para o universo da literatura.
Agora imagine uma adolescente, que mal aprendera a pronunciar a palavra amor, não compreendia a entoação de um eu te amo com sentimento sincero, nunca presenciara o amor correspondido. Essa mesma menina em transição para se tornar mulher,  ler a história de Lóri e entender sua essência. 
Ou toca ou não toca - e simplesmente tocou.
E hoje, mais velha, relendo o livro, vejo que fui Lóri diversas vezes. A minha aprendizagem trouxe prazeres únicos da vida, inclusive o amor e até um certo Ulisses. Mas antes de tudo eu aprendi a amar a mim mesma. Provei o sabor da liberdade. Entrar no mar sozinha. Encarar uma multidão sem esperar alguém para me acompanhar. Comprar um biquíni azul que achava bonito e não tinha coragem de usar. Me enxergar bonita e segura sem maquiagem e até usar a maquiagem mas apenas como um acessório e não uma necessidade de beleza. 
Ser o que se é. 
Percebi que a Lóri existiu em mim diversas vezes e acho que em você também, basta procurar.


"Uma das coisas que aprendi é que se deve viver apesar de. Apesar de ,se deve comer. Apesar de, se deve amar. Apesar de, se deve morrer. Inclusive muitas vezes o próprio apesar de que nos empurra para a frente."

Boa leitura!

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